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23 de dez. de 2011

Natal: aniversário de Heru-sa-aset?

Hotep!
Tenho visto por esses dias que antecedem o natal uma enxurrada de fotos e posts no facebook e na internet do tipo:

Geralmente, as fotos vem acompanhada de um texto como:

"Hórus nasceu no dia 25 de Dezembro da virgem Ísis (ou Meri na terra) acompanhado da estrela Sírius ao leste. Aos 12 anos, muitos o consideravam uma criança prodígio, com seus poderes.
Aos 30, Hórus foi batizado por Anup. Então, se reveleu o Messias dizendo ser o príncipe da eternidade e escolheu 12 discíoulos. Viajou pelo mundo com seus 12 discípulos praticando milagres como curar duanças e enfermos e ressucitar mortos, sendo o mais destacado um homem chamado El-Azar-Us. Hórus andou sobre as águas, enquanto alguns de seus discípulos o olhavam de um barco e tinham medo de ir até lá. Hórus disse que eles tem falta de fé. Em reuniões com seus discípulos, Hórus disse que é o caminho, a verdade e a vida. Mais tarde, Hórus foi invejado pelos governadores por o considerarem "o rei dos egípcios", então ele foi crucificado e morto. 3 dias depois, ele ressucitou."


Certo? Hmmm... deixa eu ver:

Hórus nasceu no dia 25 de Dezembro da virgem Ísis (ou Meri na terra)
Inicialmente, Heru-sa-aset (Hórus) é o filho de Aset (Ísis) e Wesir (Osíris), que eram casados. A concepção de Heru-sa-aset ocorreu de maneira não convencional, digamos: Aset, foi fecundada por Wesir enquanto realizava ritos para tentar trazê-lo de volta à vida. Assim, primeiro ponto: se Aset era casada, logo ela não era virgem. Segundo: Heru-sa-Aset tem um pai, Wesir.

acompanhado da estrela Sírius ao leste.
O apogeu da estrela sirius acontece na época mais quente no ano no Egito - localizado no hemisfério norte - e marca o início do novo ano.Se, de acordo com o texto, Heru-sa-aset nasceu acompanhado da estrela sirius, isto jamais poderia ocorrer em dezembro, que é um mês frio.

Aos 12 anos, muitos o consideravam uma criança prodígio, com seus poderes
Heru-sa-aset é um deus. É completamente óbvio que este tenha poderes, a despeito da idade que possua.

Aos 30, Hórus foi batizado por Anup.

Não existe nenhum registro de batismo de Heru em nenhuma referência bibliográfica ou histórica. O mais próximo de batismo que existiu seria ou a cerimônia de coroação dos reis ou a nomeação de alguém ao nascer/assumir algum compromisso. 
Outro ponto: Anup, no máximo, pode ser um nome alternativo para Yinepu (Anúbis). Apesar de Yinepu ter vários papéis e atuar em esferas diversas, batizar pessoas/deuses nunca foi descrito como uma de suas atribuições.

Então, se reveleu o Messias dizendo ser o príncipe da eternidade e escolheu 12 discíoulos. 

Duas coisas: o rei da eternidade (e não príncipe) é Wesir, soberano do Duat.
E, nada foi documentado, quer pelas versões gregas, quer pelos egípcios acerca de Heru-sa-aset ter 12 discípulos.

Viajou pelo mundo com seus 12 discípulos praticando milagres (...) 
Hórus disse que é o caminho, a verdade e a vida.

Heru-sa-aset realmente viajou muito, quando criança, escondendo-se de Set... Sobre ele estar com os discípulos, ter andado sobre as águas e ter afirmado a frase acima, também nada consta em nenhuma referência.

Hórus foi invejado pelos governadores por o considerarem "o rei dos egípcios", então ele foi crucificado e morto.

Heru-sa-aset teve um grande adversário: Set. A disputa aconteceu por causa do direito ao reinado no Egito. Ambos se enfrentaram por vários momentos e utilizando táticas diversas, mas em nenhum registro consta que Heru-sa-aset tenha sido crucificado - até porque isso era usado pelos romanos (e estamos falando aqui de egípcios).

3 dias depois, ele ressucitou.
Quem morreu e ressuscitou foi Wesir - e somente ele.

Conclusão: mais uma vez as pessoas fazem afirmações baseadas em idéias sem sentido ou comprovação e tomam como verdades absolutas. E o pior: esculhambam a religião/mitologia alheia!

Por favor, informem-se antes de sair por aí bancando a Ofélia,
                                                                          que "só abre a boca quando tem certeza".

Senebty!

20 de dez. de 2011

Rapidinhas

Hotep!
Quando recebo perguntas no formspring, automaticamente compartilho as respostas aqui, já que a dúvida de um pode ser a de outro também, ok?

Estamos no facebook também: Ortodoxia Kemética Brasil

Senebty!

20 de ago. de 2011

Quanto vale?

Estava perambulando pela web e  me deparei no site de um praticante de magia. Lá, ele com sinceridade postou os valores dos seus serviços. Rituais - feitiços na verdade -  para deuses/energias predominantemente romanos/gregos saíam na faixa de R$300 a R$1.000,00. 
Porém, o que realmente me deixou, digamos, admirada foi o preço para participar de um ritual sazonal: R$1.000,00.

Sim, isto mesmo - a participação em um rito sazonal custava R$ 1.000,00. Mil reais!

Não tenho nada contra, em absoluto, as pessoas cobrarem por serviços prestados. Magia é troca, e a pessoa se dispôs a fazer algo e dedicar-se, ok, paga-se por isso. Vivemos no capitalismo.
O que me deixa estupefata é a exorbitância, a falta de senso nos preços. E isso é meio geral, eu noto.

Ordens esotéricas cobram pequenas fortunas para filiação. Sacerdotes/isas praticamente fazem pequenos assaltos por uma iniciação.Ocultistas pedem quantias vultosas para um feitiço.
Qual o critério: O grau de complexidade do procedimento? O grau de fodassidade de quem executa? De tudo um pouco? Só massagem no ego?

Enfim... só para constar, o curso de iniciantes da House of Netjer é gratuito. O trabalho dos sacerdotes e outros shemsu que como eu, executam a função de atuarem como intermediários e tradutores também não tem nenhum custo financeiro para quem os desfruta.
Eu não penso ser superior ou inferior por isso - apenas faço meu trabalho e me dedico à minha fé. Não me lamento por não virem alguns zeros a mais na minha conta bancária por isso. Sirvo aos deuses atuando pela comunidade kemética ortodoxa, e essa satisfação junto com a certeza de que sou eu que estou fazendo um trabalho certo, autorizado e reconhecido pela líder da minha religião me satisfazem de uma maneira única.

Respondendo à pergunta do título, bom, meu ka está alimentado. Penso que isso já valha o suficiente. E você, o que tem feito para alimentar seu ka estando emanado em Ma'at?

10 de ago. de 2011

Linguística

Em Hotep!

Ano de Ptah,logo, falar em construção é até pleonasmo.
Venho produzindo/traduzindo boa parte do que tem por aí sobre a religião que sigo em língua portuguesa. Quando comecei, há alguns anos, além da significância per se das palavras, a questão da estilística sempre esteve (e está) presente. 
Fiz algumas opções, e, dentre elas, o termo "Kemetismo Ortodoxo". 
O que ocorre é que, embora não esteja errado, o termo não está alinhado com o nome Kemetic Orthodoxy, que além de nomear a religião, é também a sua denominação legal.

Assim sendo:

Eu, Tanakhtsenu, sat Khepera her Set, mery Aset her Heru-wer, shemsu, criadora e tradutora de todos os textos e versões em português sobre a religião kemética ortodoxa deste blog, do site, twitter, canal do youtube, formspring, facebook,multiply e outras fontes de difusão digitais ou não, ainda que não citadas diretamente, declaro que:
a partir desta data, I Akhet 8, mês de Djehuty, ano 19 do reinado de Hekatawy I, regido por Ptah - 10 de agosto de 2011 - o termo Ortodoxia Kemética  é o termo correto a ser utilizado em substituição ao termo Kemetismo Ortodoxo quer por mim e por qualquer outra pessoa, membro da House of Netjer ou não, ao referir-se à religião cujo nome em inglês é "Kemetic Orthodoxy".

A autoridade que possuo para tal decisão é imputada por anos de estudo,dedicação e práticas à religião kemética ortodoxa e endossada por anos de prática profissional e estudos dedicados ao idioma inglês.
Caso alguém deseje, me disponho a mostrar as evidências semânticas e etimológicas que me levaram a adotar a mudança de termos.

Senebty,
Tanakhtsenu.

8 de ago. de 2011

Wep Ronpet Nofret

Feliz ano novo!
Estamos hoje no sexto dia do ano 19, ano de Ptah. o//

Quero dizer que orgulhosamente celebramos, pela primeira vez, o Wep Ronpet Brasil - este ano no ES. Presentes eu, HapDjehuty, PautKhepera e PaqeniSekhmet, num encontro de muito sol e momentos inesquecíveis. 

O Wep Ronpet é o maior feriado do Kemetismo Ortodoxo - para as celebrações serem completas, iniciamos no último dia do ano, passamos mais 5 dias com devoções diárias e celebramos o dia do ano novo propriamente dito ao nascer do sol. Quem quiser ver um pouco de como foi, visite (e curta) a página do Kemetismo Ortodoxo no Facebook aqui.

Vou falar um pouco sobre o que rolou - e "por um pouco", esperem um post gigante.
Convido aos outros participantes para deixarem aqui suas impressões também. :)

Chegada
Nos reunimos todos no último dia do ano 18, quando eu e Hap nos dirigimos para o ES. Tinha dormido pouquíssimo, mas nem por isso meu entusiasmo diminuiu - pelo contrário! Encontro divertido e com muitas risadas.
Eu cheguei pela manhã, então deu tempo de ir para a casa dos anfitriões, descansar um pouco, almoçar e voltarmos para buscar Hap. Mais um encontro divertido e cheio de risadas.
Mais tarde, todos juntos, esquematizamos como seria o próximo dia e como faríamos os rituais dos outros dias. Optamos em revezar quem conduziria os ritos,estando a condução ligada à linhagem do oficiante.

Dias epagomenais
No dia seguinte saímos de manhã para passear e fazer as compras do que necessitávamos em um bairro local especializado - a Vila Rubim . Encontramos o que queríamos, fizemos alguns ajustes.À noite montamos o altar, fizemos a devoção para Wesir, nosso rito sagrado e o rito aos Akhu. Foi uma grande emoção para todos, pela primeira vez reunidos em um ritual coletivo.

No outro dia, fizemos a devoção para Heru-wer no altar do dia anterior. Fizemos oferendas e preces e acabamos esticando a comemoração à noite também.

No 3º dia, a devoção para Set.Como não poderia deixar de ser, sendo seu aniversário, Ele nos presenteou - situações inusitadas, pequenas confusões e muitas risadas.Sua devoção foi diferente, fora do altar, mas com certeza foi uma das mais marcantes.

4º dia, devoção para Aset. Mudamos para o altar principal. Todos nós adornados para honrar a Grande Senhora de Kemet, em um momento de grande intensidade.Não houve rito mais lindo e cerimonioso do que esse.

Por último, no 5º dia, a devoção a Nebhet. O dia amanheceu estranho e passamos o dia parados, todos com a mesma sensação de tempo arrastado. Sua devoção também foi no altar principal, à noite.

Deixamos as coisas meio preparadas para o dia seguinte e os outros foram dormir. Eu ainda fiquei acordada até mais tarde fazendo os últimos retoques e fui deitar.

Wep Ronpet
Cedo, muito antes do sol nascer, levantamos.
Um a um, fomos nos preparar. O incriado, ainda no mundo, fez sua presença ser notada através de incidentes diversos que acabaram nos atrasando alguns momentos. Driblamos todas as adversidades e iniciamos os ritos, com convicção.
Fizemos a devoção do dia, o dia mais sagrado, pedindo as bênçãos para este novo ano.
Reunimo-mos e destruímos o incriado, o que se alimenta em isfet. Toda nossa força posta em ação para destruir e afastar. Pelo Olho de Ra e sua chama, derrotamos.
Saímos em procissão, buscando a primeira luz.Banhamo-nos em dourado, nossos deuses e deusas renascendo em ouro. Cantamos e nos alegramos.
Votamos para o altar principal. Iniciamos o rito sagrado, agradecendo por mais este ano, o ano 19, regido por Ptah. Foi um momento de pura intensidade, em que a emoção calou as palavras. Pedimos e agradecemos, compartilhamos e recebemos. Um festa, onde todos pudemos sentir as presenças dos deuses e deusas.
O tempo voou e quando nos apercebemos, 3 horas tinham transcorrido. Famintos e felizes, partilhamos o café da manhã. 
Só então o corpo sentiu e fui descansar. Mais tarde, saímos e fomos aproveitar o dia de festa e sol. A noite chegou, mais um jantar de celebração. Depois, arrumar as malas.

Partida
Correria pela manhã, últimas arrumações. Acompanhamos Hap até a condução que o levaria ao aeroporto e nos despedimos.
Almoçamos, últimas arrumações e a luta para fechar a mala.Saímos para o aeroporto e, como tínhamos tempo, tomamos um café. Chamada do voo, e tchau, ES.

Impressões
Difícil é conceituar o que significa estar entre aqueles que partilham o meu caminho, emanados em Ma'at. 
Há muito tempo se idealizou e planejou algo assim, mas as circunstâncias e as pessoas com atos idiotas e mesquinhos impossibilitaram de acontecer antes. Antes deste encontro só tive uma alegria similar a esta, que foi na tarde em que depois de muitos anos ganhei o abraço e o sorriso da Siath.

O Kemetismo Ortodoxo não é e nunca foi, uma religião de internet ou um lugar para se ganhar nome legal ou ainda o lugar para os colecionadores de títulos de ordens.

Vou repetir, porque eu já pensava isso, e agora, meu pensamento e opinião estão mais fortes ainda:

O Kemetismo Ortodoxo não é e nunca foi, uma religião de internet ou um lugar para se ganhar nome legal ou ainda o lugar para os colecionadores de títulos de ordens. 

Aqui a comunidade é importante SIM, vivenciar a fé com os outros é importante SIM, praticar que se aprende é importante SIM, trocar experiências é importante SIM, respeitar os outros é importante SIM, ter boa educação é importante SIM.

Tudo isso eu já pensava e sabia, mas agora, depois dessa experiência, de estar entre os meus no tempo mais sagrado... Como eu disse, meu pensamento e opinião estão mais fortes.
O tanto que eu ganhei nesses dias eu não aprendi em anos de leitura de internet. Aprendo sim, me dedicando e pesquisando, mas a interação com outros... Só vivenciando para se ter noção.   

Vivam. :)

Esse ano, o ano 19, é o ano de Ptah, Ele que é o grande construtor. Dua Ptah, acompanha-me durante este ano e permita que minha construção seja poderosa e durável. Kheperu! Nekhtet!

31 de mar. de 2011

Um momento

A ti, que de curiosa, passaste a conhecida, de conhecida para interessada, de interessada para companheira, de companheira para amiga, meu mais sincero Nekhtet neste novo dia, teu zepi tepi, que se inicia. 

A ti congratulo e saúdo, saída do templo e banhada pelo alento do sol. Tu, que carregas o sol da manhã no teu nome e tem dentro de ti segredo, magia e uma força vermelha. Hoje não dou as mãos para te ajudar, mas para que caminhes ao meu lado em nossa terra de areias. 

Ainda ontem recebemos visitas em nosso lugar sagrado, e muito me fez feliz estar lá e ver que ela, a nossa sacerdotisa também desfrutou da alegria das visitas. Sim, elas eram alegres, curiosas e também tímidas. Suas vestes e os sussurros, os olhares e os sorrisos, nada deixou de ser notado. Em certos momentos a tarefa foi árdua, pois não era eu somente aquela que redesenhava palavras, mas também a que zelava e participava da tua cerimônia.

Haviam tantos dos nossos! E foi com orgulho que te vi ir à frente, nervosa, mas em frente. Recebeste teu presente e teus olhos estavam repletos de lágrimas e felicidade. Gratidão e amor eu vi neles, e como teu Pai, que também é meu, brilhaste.

Juramentos e promessas proferidos, ainda atônita estavas quando todos começamos a celebrar. E então eu fui comemorar também após cumprir meu dever. Não pude dar atenção a um dos nossos, pois este, tal qual seu pai, veio e partiu silencioso. Tudo muda de novo e quando tentei brindar a ti, fui chamada ao dever por outro dos nossos. 

Não estavas só, as convidadas te faziam companhia, e assim parti por um breve instante. Por fim, cheguei a tua celebração, te saudei e brindei. A mim vieste com palavras de gratidão e carinho, que meu coração e alma bem receberam. De meu Pai, aquele que não é o teu mas tens grande apreço, recebi cumprimentos que te mandei.

Conversamos e celebramos e o tempo se acelerou. Era hora de todos irmos, mas com a promessa de nos reunirmos em outras comemorações. Parti para minha morada, rumo a meu descanso, cansada e feliz.

Tua jornada certamente não chegou ao fim, mas agora deixo eu de ser tua "tia" para com orgulho te dar aos mãos e te chamar de irmã. Bem-vinda à família. 

26 de mar. de 2011

30 dias de paganismo - Dia 03: Ortodoxia x gnose pessoal

           Logo de cara, uma das primeiras palavras a ressaltar aos olhos é o “Ortodoxo” quando lemos Ortodoxia Kemética. Então, o que isso quer dizer, que sigo por aí, de cabeça raspada como uma sacerdotisa dos afrescos e já estou eu, Tanakht, construindo minha tumba para quando eu morrer?
            Calma que não é bem assim. Primeiro que eu curto o meu cabelo onde e do jeito que ele está, então a parte de raspar a cabeça fica para outra ocasião. Quanto à tumba, primeiro penso em construir outras coisas primeiro, a tumba, quem sabe depois, ok?
            Quando eu falo em ortodoxia, me refiro à parte em que nós, keméticos, procuramos seguir aquilo que define uma religião como reconstrucionista: tentar chegar o mais perto do possível do que os antigos faziam, mas de acordo com o nosso tempo. Por exemplo, eu não acendo uma vela com sílex, eu uso fósforo mesmo. Isso é ser racional, e não um fanático. A questão toda que pega, e que muita gente não compreende é esta: é preciso disciplina sim, mas com bom senso, sem tolher a expressão de cada pessoa.
            Da mesma forma, não é aceitável flertar com o samba do crioulo doido. Exemplifico:
Se está dito que a pessoa tem que ter um altar, ela tem que ter um altar.Arranje espaço! Não tem um cômodo separado, faz no seu quarto; não pode ser visto, bota numa gaveta ou numa caixa e na hora que for usar, acende a vela do lado de fora. Ninguém precisa construir algo como Abu Simbel se não pode. Faça o que pode, mas faça o seu altar.
            Sem samba do crioulo doido: nada de não fazer altar porque “não sentiu necessidade”, “porque honra os deuses no astral”. “porque distribuir pela casa fica mais bonito”. Ortodoxia: os antigos tinham templos incríveis que nos maravilham até hoje, e mesmo os mais humildes tinham altares em suas casas. Então, sem choro nem vela. Disse e repito: não é um caminho para todos.
            E onde entra então, a gnose pessoal nisso tudo? Keméticos são nerds robôs?
        Bom, talvez alguns de nós sejam nerds, ainda não fiquei sabendo que tenham robôs keméticos...Mas na maioria, exercitamos nosso direito sagrado de nos expressarmos. Sei de pessoas que honram seus deuses dançando, outras dedicam seus estudos universitários; alguns escrevem hinos, outros pintam. Outros apenas contemplam a natureza e assim se conectam. Outros, como eu, falam sobre suas crenças.
            Alguns keméticos usam velas pequenas, outros das de 7 dias, outros usam lamparinas. Alguns chamam seus Pais por apelidos, outros usam os nomes completos com os epítetos. Sei de pessoas que compram presentes para ofertar a seus deuses, como bichos de pelúcia, jóias, brinquedos.Alguns cobrem seus altares de seda pintada a mão, outros usam toalhas de mesa.
      Eu poderia ficar aqui escrevendo até meus dedos e olhos caírem. A diversidade é fascinante e uma celebração que muito me agrada. Gnose pessoal na ortodoxia é isso, o toque de diversidade na unicidade que permite que ela não destoe, ainda que seja diferente. Todos pilares estão lá, firmes e uniformes, mas multicoloridos.

P.S.: Um dua especial ao meu Pai Set, em seu dia, e que foi minha inspiração para esse texto. Dua Set!

20 de mar. de 2011

30 dias de paganismo - Dia 02:Divindades

    Sou reconstrucionista, logo, não criei um panteão ou uma mescla de panteões. O panteão egípcio é o que sigo, e este é composto por vários deuses e deusas.
    Os deuses/as egípcios tem características diversas, mas geralmente encontramos suas descrições e imagens de maneira zoomórfica, ou seja, com partes de animais.Por exemplo:


Sobek é um homem com cabeça de crocodilo.









                    

                     Renenutet é uma mulher com corpo/cabeça de serpente. 

    Correlacionamos também os deuses aos animais presentes em suas representações. Assim, o mesmo Sobek pode aparecer representado como um crocodilo ou Renenutet como uma serpente.O culto aos animais sempre esteve presente no Egito, com os falcões e besouros sendo os primeiros animais a serem considerados sagrados.
    Os deuses tem conexão com a natureza como um todo e seus fenômenos. Por esse motivo, considera-se que a religião seja panteísta - os deuses estão em tudo. Os deuses também possuem ligações com o céu em seus diferentes momentos através do dia e da noite, como Wadjet que é identificada com "a aparência do céu ao norte onde o sol nasce". Também possuem ligações com a terra, no caso, o Egito em termos de geografia. 
   Neste ponto, a concepção dos deuses assemelha-se ao helenismo e seu conceito de religião de pólis, onde vemos deuses/as sendo venerados e sagrados em determinados lugares em detrimento de outros. Thebas, a cidade de Bast e Mut; Abydos, cidade de Wesir.
    Entretanto, apesar do que possa parecer, o Kemetismo Ortodoxo não é uma religião de politeísmo, mas de monolatria. Atenção: monolatria é diferente de monoteismo, como no caso das religiões abraãmicas. No monoteísmo, há somente um deus, na monolatria, não. 
    Da mesma forma, também não somos henoteístas, onde afirmamos que o deus X é superior ao deus Y ou que determinado deus/a está acima dos outros deuses/as e que o culto de uma pessoa deve ser direcionado desta maneira. Como exemplo, cito o Odinismo dentro do Asatrú, que possui essa visão henoteísta.
     No Kemetismo Ortodoxo cremos em um princípio, Netjer. Netjer, ultra master do universo, não é feminino ou masculino. Então, aqui não cabe o conceito da Deusa Wicca ou de Javé, que é assumidamente, "Pai/Senhor".Netjer é tudo, o divino e sagrado. 
    Netjer apresenta-se com vários Nomes, Netjeru (deuses) e Netjeret (deusas) no panteão egípcio. São estes Nomes de Netjer os que personificam cada um dos seus aspectos separadamente. Assim, podemos interagir de uma maneira mais única e intensa, vivenciar e conhecer melhor o todo através de suas partes.
    Todos e um:Netjer.

12 de mar. de 2011

Você tem o relógio, eu tenho o tempo.

Este é um texto maravilhoso, link enviado pela Iony. Obrigada!
Espero que todos aproveitem a leitura como eu aproveitei.




" - Não conheço minha idade: nasci no deserto do Saara, sem endereço nem documentos…! Nasci num acampamento nômade tuareg entre Timbuctú e Gao, ao norte do Mali. Fui pastor dos camelos, cabras, cordeiros e vacas que pertenciam a meu pai. Hoje, estudo Administração na Universidade de Montpellier, no sul da França. Estou solteiro. Defendo os pastores tuaregs. Sou muçulmano, mas sem fanatismo. 
- Que turbante bonito! 
- É apenas um tecido fino de algodão: permite cobrir o rosto no deserto quando a areia se levanta e, ao mesmo tempo, você pode continuar vendo e respirando através dele. 
- Sua cor azul é belíssima… 
- Ela é a razão pela qual chamam a nós, tuaregs, de homens-azuis: o tecido aos poucos desbota e tinge nossa pele com tons azulados. 

- Como vocês produzem esse intenso azul anil? 
- Com uma planta chamada índigo, misturada a outros pigmentos naturais. O azul, para os tuaregs, é a cor do mundo. 
- Por que? 
- É a cor dominante: a do céu, a do teto da nossa casa. 
- Quem são os tuaregs? 
- Tuareg significa “abandonado”, porque somos um velho povo nômade do deserto, um povo orgulhoso: “Senhores do Deserto”, nos chamam. Nossa etnia é a amazigh (berbere), e nosso alfabeto, o tifinagh. 
- Quantos vocês são? 
- Cerca de três milhões, a maioria ainda nômades. Mas a população diminui… “É preciso que um povo desapareça para que percebamos que ele existia!” denunciou certa vez um sábio: eu luto para preservar o meu povo. 
- A que ele se dedica? 
- Ao pastoreio de rebanhos de camelos, cabras, cordeiros, vacas e asnos, num reino feito de infinito e de silêncio. 
- O deserto é mesmo tão silencioso? 
- Quando se está sozinho naquele silêncio, ouve-se as batidas do próprio coração. Não existe melhor lugar para quem deseja encontrar a si mesmo. 
- Que recordações da sua infância no deserto você conserva com maior nitidez? 
- Acordo com o sol. Perto de mim estão as cabras de meu pai. Elas nos dão leite e carne, nós as conduzimos onde existe água e grama… Assim fez meu bisavô, meu avô e meu pai… E eu. No mundo não havia nada além disso, e eu era muito feliz assim! 
- Bem, isso não parece muito estimulante… 
- Mas é, e muito. Aos sete anos de idade, já permitem que você se afaste do acampamento e descubra o mundo sozinho, e para isso lhe ensinam coisas importantes: a cheirar o ar, a escutar e ouvir, a aguçar a visão, a se orientar pelo sol e as estrelas… E a se deixar conduzir pelo camelo; se você se perde, ele lhe conduzirá onde existe água. 
- Esse é um conhecimento muito valioso, não há dúvida… 
- Lá tudo é simples e profundo. Existem poucas coisas no deserto, e cada uma delas possui grande valor. 
- Assim sendo, este mundo e aquele são bem diferentes, não é mesmo? 
- Lá, cada pequena coisa proporciona felicidade. Cada roçar é valioso. Sentimos uma enorme alegria pelo simples fato de nos tocarmos, de estarmos juntos! Lá ninguém sonha com chegar a ser, porque cada um já é. 
- O que mais o chocou ao chegar pela primeira vez na Europa? 
- Ver a gente correr nos aeroportos. No deserto, só corremos quando uma tempestade de areia se aproxima. Fiquei assustado, é claro… 
- Corriam para buscar suas bagagens… 
- Sim, devia ser isso. Também vi cartazes mostrando moças nuas: por que essa falta de respeito para com a mulher?, Perguntei-me… Depois, no Hotel Íbis, vi uma torneira pela primeira vez em minha vida: vi a água correr… e tive vontade de chorar. 
- Que abundancia, que desperdício, não é mesmo? 
- Até então, todos os dias da minha vida tinham sido dedicados à procura d’água. Até hoje, quando vejo as fontes e chafarizes decorativos que existem aqui, sinto uma dor imensa dentro de mim. 
- E por que? 
- No começo dos anos 90 houve uma grande seca, os animais morreram, nós adoecemos… Eu tinha uns doze anos, e minha mãe morreu… Ela era tudo para mim. Contava-me histórias e ensinou-me a contá-las bem. Ensinou-me a ser eu mesmo. 
- Que aconteceu com sua família? 
- Convenci meu pai a deixar-me frequentar a escola. Todos os dias eu caminhava quinze quilômetros para chegar até ela. Até que um professor arrumou uma cama para eu dormir, e uma senhora me dava comida quando eu passava em frente à sua casa. Entendi: era minha mãe que me ajudava… 
- De onde veio essa paixão pelos estudos? 
- Dois anos antes, o rally Paris-Dakar passou pelo nosso acampamento, e caiu um livro da mochila de uma jornalista. Eu o apanhei e devolvi a ela. Mas ela me deu o livro de presente e disse que ele se chamava “O Pequeno Príncipe”. Naquele instante prometi a mim mesmo que um dia seria capaz de lê-lo… 
- E você conseguiu… 
- Sim. Foi assim que consegui uma bolsa para estudar na França… 
- Um tuareg na universidade! 
- Do que mais tenho saudade é do leite de camela. E do fogo de madeira. E de caminhar descalço sobre a areia tépida. E das estrelas: lá, nós as admiramos todas as noites, e cada estrela é diversa da outra, como cada cabra é diversa da outra. Aqui, à noite, vocês ficam vendo televisão. 
- Sim. Na sua opinião, qual é a pior coisa que existe aqui? 
- A insatisfação. Vocês têm tudo, mas nada lhes é suficiente. Vivem se queixando. Na França, passam a vida queixando-se. Vocês se acorrentam por toda a vida a um banco por causa de um empréstimo, e existe essa ânsia de possuir, essa correria, essa pressa. No deserto não existem engarrafamentos, sabe por que? Porque lá ninguém quer passar à frente de ninguém! 
- Relate um momento de felicidade intensa que você viveu no seu distante deserto. 
- Esse momento ali se repete a cada dia, duas horas antes do pôr-do-sol: o calor diminui, o frio da noite ainda não chegou, homens e animais retornam lentamente ao acampamento e seus perfis aparecem como recortes contra o céu que se tinge de rosa, azul, vermelho, amarelo, verde… 


- É fascinante. E então… 
- Esse é um momento mágico… Entramos todos na tenda e fervemos a água para o chá. Sentados, em silêncio, escutamos o barulho da água que ferve… A calma toma conta de nós… As batidas do coração entram no mesmo compasso dos gluglus da fervura… 
- Que paz… 
- Aqui vocês têm o relógio; lá, temos o tempo."
 
Texto obtido daqui
 

18 de fev. de 2011

30 dias de paganismo - Dia 01: Por que Ortodoxia Kemética?


Não é um caminho para todos. Tem um código de conduta rígido. Detalhes que devem ser seguidos à risca. É preciso estudar: história, mitologia, idioma.Viver a fé e não somente se rotular. Ter disciplina para continuar sozinho, mesmo estando em contato com pessoas do mundo todo. Trazer os deuses para a vida, compreender e aceitar que eles estão lá sim. 

Nada disso é fácil.E nos dias atuais, onde temos tanta facilidade à informação, fica bem menos difícil se cansar, achar outro caminho mais cômodo e deixar essa coisa pra lá. Mas por que eu não desisto? 6 anos sem desistir, apesar de tantas coisas que já aconteceram e de uma história de vida tão louca que por vezes me pergunto se não sou eu mesma a criação de um escritor insano se divertindo depois de se entorpecer.

O Egito sempre esteve em mim sem eu nem saber. De ver filmes antigos, documentários, desenhos, reportagens, de querer pirâmides. Aprender no colégio foi o gatilho que faltava. Ah, suspirava eu, o Egito! E ainda me vejo lá na biblioteca lendo de novo e de novo sobre tudo egípcio.

A Ortodoxia kemética veio para mim como um convite. Uma noite, Aset veio no meu sonho e disse que me esperava. Há muito procuro por você, disse a Senhora com o sorriso que só uma deusa possui. E eu, entre a estupefação e as lágrimas, só sabia olhar para ela.  Me procure, disse a Senhora, pois agora eu já achei você. 

Parafraseando uma pessoa querida, não se dá as costas a um deus. E há 7 anos eu parti numa busca que me levou a House of Netjer. 

Hoje me vejo fazendo tantas coisas, num eterno Zepi Tepi como Ra, que morre e renasce todos os dias. Porém, nunca estou fora do Kemetismo. Aprendo com meu Pai Seth sobre determinação, sorrio com o afago do meu Pai Khepera numa manhã fria. É minha mãe Aset que está lá me ensinando a ser mais mulher. É Heru-wer que me estimula nas minhas aventuras. Cozinho com meus ancestrais. 

Me maravilho com a humanidade trocando idéias com meus irmãos na fé,pessoas que dificilmente eu conheceria se não fosse o caminho que estou. Tenho planos, uma mente mais disciplinada, realizo. Não me saboto mais. Me dôo e me engrandeço como ser humano através dos meus atos de devoção. Não sou perfeita, mas tenho um exemplo para me guiar na tentativa: Ma’at. Tudo isso sem terrorismo, sem chantagens, sem preceitos que já vi e vejo em tantas outras religiões. Tudo depende de mim, das minhas ações. E assim sou mais confiante do que jamais fui antes.

Então, por que não ortodoxia kemética?

16 de fev. de 2011

Convergência

Bem, amigos keméticos brazucas ou entendedores de português,

Fico feliz de conhece-los e/ou reencontrá-los. O blog aqui é, ouso dizer, vivo.

Sempre me perguntam sobre os keméticos brazucas, quantos somos, onde estamos...E agora, analisando, eu tive a chance de ter contato com todos os brazucas nestes 6 anos de House of Netjer. Quer fosse um oi, um e-mail, uma prosa na madrugada... E isso me deixa bem, porque lá estou em um dos pilares do Kemetismo: a comunidade. 

Então, povo, obrigada por me deixarem um pouco mais feliz e animada em continuar. Que estejamos em Ma'at, vivendo e celebrando a vida sempre em harmonia entre nós. Kheperu!

13 de fev. de 2011

30 dias de paganismo

É interessante e divertido como as coisas se encaminham e acabam ocorrendo na minha vida.
Já tinha flertado com a ideia quando a Filhote de Lua comentou em seu blog, mas agora, depois que o Jotta e a Iony me seduziram, não resisti mais.
São 30 dias de postagens sobre o paganismo, no meu caso, sobre Ortodoxia Kemética.Não, não são consecutivos - até porque eu nem me aventuraria se fossem.

Este será o cronograma do meme:

Dia 01 - Por que Ortodoxia Kemética? 
Dia 02 - Crenças: Divindades
Dia 03 - Crenças: Ortodoxia x gnose pessoal
Dia 04 - Crenças: Datas Sagradas
Dia 05 - Crenças: Cosmogonia
Dia 06 - Crenças: Ma'at 
Dia 07 - Religião: Ritos de passagem
Dia 08 - Crenças: Perene Eternidade - O Duat
Dia 09 - Crenças:Ancestrais
Dia 10 - Crenças: Magia
Dia 11 - Práticas: Ritual
Dia 12 - Práticas: Prece
Dia 13 - Práticas: Altares
Dia 14 - Religião: Ser shemsu
Dia 15 - Panteão: Khepera
Dia 16 - Panteão: Set
Dia 17 - Panteão: Aset
Dia 18 - Panteão: Heru-wer
Dia 19 - Panteão: Todos os Nomes
Dia 20 - Comunidade
Dia 21 - Minha relação com praticantes de outras fés
Dia 22 - Caminhos que explorei e o que aprendi neles
Dia 23 - Todas e uma kemética
Dia 24 - Lágrimas de uma kemética
Dia 25 - Rindo à toa na Ortodoxia Kemética
Dia 26 - Estética Pessoal e Ortodoxia Kemética
Dia 27 - Tem uma kemética na família
Dia 28 - Meio ambiente
Dia 29 - O Futuro da Ortodoxia Kemética
Dia 30 - Aos buscadores...



Para acompanhar a série, basta buscar o marcador 30 dias de paganismo. Os posts vão aparecer em ordem (e viva a tecnologia!).

7 de fev. de 2011

Mulheres

Em hotep!
Dentro do kemetismo não existe nenhum tipo de discriminação com relação a sexo, idade, cor de pele, orientação sexual, condição econômico-social etc. Querem prova maior do que a líder da religião ser mulher?
As histórias dos deuses nos mostram que as mulheres podiam exercer vários papéis. Por exemplo, Aset não é apenas uma rainha por ser casada com Wesir – em sua ausência, ela governou Kemet e, mesmo junto a Wesir, possui poder de decisão. Além disso, quando estava em busca de seu marido, trabalhou como serva de uma rainha e babá. Isto sem contar seu aspecto mais conhecido, o de maga. Outro caso é o de Sekhmet, que possui habilidades de guerreira tão boas quanto as de curandeira.  
É possível constatar através de papiros e manuscritos que juridicamente a mulher egípcia possuía paridade de direitos com os homens. As mulheres podiam ter profissões remuneradas (parteiras, sacerdotisas, dançarinas, governantas), negócios próprios (como tecelagem ou perfumarias), vender e comprar bens, libertar escravos e tinham direito sobre propriedades herdadas ou compradas. Por exemplo, em caso de falecimento do marido, tinham direito a 2/3 dos bens. Um fato curioso é que na Grécia – o berço da democracia - as mulheres não tinham tantos direitos quanto as mulheres de Kemet.
            Como a religião kemética (antiga e atual) baseia-se na questão dos ciclos, a fertilidade era muito valorizada. Desta forma, esperava-se que as mulheres fossem férteis e pudessem gerar muitos filhos – e não vamos esquecer que a fertilidade também era um símbolo de status social.  Quando uma mulher tornava-se mãe, de preferência no primeiro ano de seu casamento, ela ganhava mais respeito tanto da sociedade quanto de sua família. Mulheres estéreis não eram tão valorizadas socialmente, já que não podiam dar continuidade “legítima” a descendência de um homem, mas possuíam o direito de adotar crianças se desejassem.
            O casamento, apesar de ser visto como um compromisso a ser honrado, não envolvia cerimônia religiosa ou algum tipo de comemoração especial. A vida adulta, para uma mulher, era marcada por sua primeira menstruação por isso, geralmente se casava por volta dos 14 anos mais ou menos, embora tenham sido encontradas múmias de esposas com 10 anos de idade.  Não havia cobranças com relação a virgindade para o casamento, já que a sexualidade era estimulada e expressada – e muitas vezes vivida pelo casal antes mesmo do casamento. 

4 de fev. de 2011

De quando eu visitei as Duas Terras

Recentemente pude ter o privilégio de visitar as Duas Terras. Não postei na época o que eu escrevi, e hoje achei aqui guardado!

Alexandria, Kemet

O lugar que eu mais esperei. Desde o dia que fiquei sabendo minha data e o navio. Eu ia visitar o lugar sagrado, as Duas Terras. Os dias foram passando e finalmente, finalmente, finalmente chegou o grande dia. O chato: duas colegas sem poder sair. Íamos sair Bispo e eu. 
Uns dias antes fui falar com a chefona.
Posso ter day off? Não. Dá pra ter mais horas livres? Não. Dá pra sair mais cedo? Não.
No fim ela liberou uma hora mais cedo todo mundo. Beleza. 1 da tarde, eu ia estar na rua. Impossível ir no Cairo visitar as piramides, 2 horas de viagem desde Alexandria, que merda. Mas tudo bem, essa visita fica pra outra ocasião.
1 da tarde eu pronta, pego a câmera com Ze e la vamos Ale e eu. Tinha que levar um documento lá da imigração que eles deram pra nos uma noite antes. Saímos, entramos no porto. E caralho. CARALHO.
O terminal eh absolutamente LINDO. Tudo em mármore e granito, esculturas, lustre em forma de piramide, e eh gigante, gigante.Gente, um absurdo de tao lindo aquele porto. No terminal encontramos o Luigi, o cozinheiro gato. Ele se juntou com a gente e lah fomos nos sair do porto e tentar descolar um taxi.
Na saída, infartei. Vaaaaaaaaaaarias lojas de souvenir com tudo, mas absolutamente tudo que se imagine. Fiquei louca, queria entrar lah na hora e levar tudo. TUDO. Continuamos a caminhar, achamos um taxi, combinamos um tour de 2 horas com o cara.
A cidade é um caos absoluto, muito suja. Se no Brasil a gente pensa no contraste do abismo social, gente, no Egito isso é muito mais acentuado.Aí vimos as mulheres de burka e caramba, elas usam até luva!!Horrendo e assustador, nossa. Chegamos na nossa primeira parade, o templo de Ptolomeu.
Paramos, tinha que pagar entrada e nisso ficamos zoando nos perguntando se tinha camisa de time de futebol do Egito e tal. Nisto, 3 caras ali pra entrar tambem chegam na gente, sao brasileiros jogadores de futebol!!!
Andamos com eles e quando eu entro no templo, as lagrimas. Puta merda. Eu tava lá
Olhei cada pedra, cada estatua, e aquele pilar gigante com a esfinge do lado. Eu tava lá de verdade, de verdade. Logo no inicio do caminho, uma estatua de Ramses II – meu monarca favorito! Reverenciei meu ancestral setiano e continuei o caminho. Fotos. Fotos e mais fotos. Hora de ir, nos despedimos dos jogadores de futebol e voltamos pro taxi. Proxima parada, anfiteatro romano.
Chegamos, mais uma entrada pra pagar. Entramos, uau. Mais fotos, o sol torrando, nao importava. Andamos em tudo, maravilhoso. Um sonho real, eu tocava nas pedras, maravilhada. Cada passo que eu dava meu sorriso so aumentava. Mais fotos, vambora.
Proxima parade, Biblioteca de Alexandria. Infelizmente, a nova, jah que a primeira foi destruida por um incêndio, a segunda por um terremoto. Iamos entrar, mas tava uma galera lá, iamos perder um tempo absurdo. Andamos por fora, o treco é gigante. Do lado de fora, uma puta estatua. Bonito demais! Fotos e mais fotos, hora de partir. Nisto eu ja estava com a pressao baixa, sem comer desde o café da manhã e andando que nem uma doida no sol. Avisei que precisava comer, decidimos comer no proximo ponto de parada.
O Forte de Alexandria, na outra extremidade da praia. E lá fomos nós, passamos pelo monumento ao soldado desconhecido. UAU. Chegamos enfim no forte. Na entrada da praia uma escultura linda de um escaravelho, mas nao deu pra tirar foto.
Comecamos a andar em direção ao forte, no caminho, varios vendedores ambulantes de souvenires. Fotos e mais fotos, a bateria da camera acaba. Comeco a ficar hipoglicemica. Estamos voltando pro taxi e aviso pro povo que nao dah mais, tenho que comer naquela hora ou vou desmaiar. Paramos num quiosque, compramos picole, chocolate, refrigerante e um bolinho. Comeco a comer o picolé, o resto enfio na bolsa e vamos pro taxi. O mundo volta a ter cores e estamos indo para a mesquita.
Chegamos na mesquite, uma menininha linda querendo vender tapete. Muito bonita e simpatica, amarrou minha pashmina na minha cabeca que nem o veu que elas usam. Fotos e mais fotos com a camera da Bispo.  Hora de ir, dou 5 euros pra menininha, ela me da um abraço. De volta ao porto.
O caminho é mega trash. Becos estranhos, umas lojas de pneus, desmanche de carros. o Gato tem que estar de volta as 4:30 no trabalho. Voamos e chegamos no porto, Gato sai correndo e se vai pro barco, Bispo e eu vamos para as lojinhas de souvenir.
Fiquei absolutamente pobre, na miséria.Até as moedas eu contei. Achei a encomenda do Ruizão, tá aqui guardada. Comprei tudo o que deu e ainda por cima foi pouco, saí desesperada porque não comprei o suficiente, queria aquelas bijouterias, roupas, enfeites pra casa, pratarias, tapetes, papiros gigantes, estatuas, aaaaaaaahhh… Cheguei no barco, peguei mais $ com minha amiga e comprei mais umas coisinhas. Voltei, desolada. Queria mais, não foi o bastante.
Morfei, fui trabalhar. Feliz, feliz mas absolutamente triste. Meu coração ficou no Egito. Kemet é meu lugar.
De noite, quando o barco ia sair, fui para a proa e descobri que Alexandria tem um farol. Não é, certamente como o da Antiguidade, mas aí fiquei lá olhando, olhando. O barco comecou a se mover e eu lá, olhando praquele céu. 
E eu chorei, chorei e agradeci.
Lembrei do meu pai, do meu Homem Grande, da Iony, do povo da HON, do meu irmão, do magrelo… O barco partia e eu chorava, fazendo uma prece olhando praquele céu de estrelas estranhas e antigas. Mais um dia, menos um dia.  

18 de jan. de 2011

Coisa de mulherzinha

Hotep!
Outro dia recebi um comentário de alguém que infelizmente não se identificou, mas teve a impressão que o kemetismo era somente para mulheres por causa do que eu havia escrito em alguns textos. Eram textos específicos sobre a condição feminina no Egito, e algumas opiniões minhas.A pessoa também me perguntou sobre as vantagens de ser kemético, em sendo um homem.
Bom, o Kemetismo Ortodoxo não discrimina ninguém por nada - você pode ser de qualquer raça, credo, orientação sexual, sexo, condição econômica, país...
Assim sendo, meu caro amigo, homens também podem ser keméticos. Aliás, existem muitos homens keméticos!Existem shemsu e sacerdotes Wa'ab das mais diversas divindades, masculinas e femininas.
Só pra deixar claro, o Kemetismo Ortodoxo não tem nada a ver com tradições/sistemas em que uma divindade feminina é central e/ou os adeptos tenham que ser mulheres e/ou adorar somente deusas.
Eu mesma sou filha de Seth e Khepera, ou seja, duas divindades masculinas! E AMO meus Pais de todo coração. Não sou menos mulher por isso, do mesmo modo que um homem que seja filho de Aset não vai ter sua masculinidade diminuída. 
Todos sabem que infelizmente existe um pessoal mais radical nesse processo de resgate ao feminino (como também tem os atuando em prol do machismo total). Mas fique tranquilo, meu amigo, aqui no Kemetismo Ortodoxo não tem isso. Todos nascem iguais sob a luz de Ra.
Senebty!